ABREU,
Paulo Roberto de. Rumos do professor
contemporâneo: A epistemologia genética e o pensamento complexo. São
Caetano do Sul-SP: Laura editorial, 2015. 119 págs.
O
livro Rumos do professor contemporâneo: A epistemologia genética e o pensamento
complexo trata de um alerta aos docentes, quanto os desafios da educação
contemporânea. Além do mais, o autor propõe aos mesmos, através das ideias de
Edgar Morin e Piaget, possibilidades para a transformação do fazer pedagógico.
Este é composto por sete capítulos, no qual cada um trazem discussões pertinentes,
preocupantes e reveladoras sobre o processo de ensino e aprendizagem.
O
primeiro capítulo, intitulado como a complexidade do ensino escolar, aborda
questões referente a formação do professor. Inicialmente é mostrado que os
cursos formadores pautados nos moldes tradicionais, tem resultado em sala de
aula numa didática linear e fragmentada. Em seguida, o autor enfatiza a
necessidade do professor reconhecer o conhecimento, enquanto uma construção
infinita do saber. Assim como, o desenvolvimento de um professor que também
seja pesquisador.
A
epistemologia genética é a temática discutida no segundo capítulo deste livro.
O Paulo Roberto de Abreu analisa as ideias de Piaget, mostrando como os seres
humanos constroem conhecimentos, por quais processos e etapas eles passam. Ele
aponta a importância enquanto professores e pesquisadores em dar continuidade
ao trabalho de Piaget, onde o mesmo enxerga-o como um dos rumos do professor
contemporâneo.
Ainda
neste capitulo, o autor discute dois assuntos importantes para o processo de
ensino e construção dos conhecimentos que são: a afetividade e o ensinar com
afeto. A afetividade é a mola propulsora de todo tipo de atividade, principalmente
no ambiente escolar. A mesma se faz necessária e importante para que se venha a
ter, um bom relacionamento entre aluno-professor-escola. Não só nesse tipo de
relação, mas também como estratégia pedagógica.
Um
professor que é afetivo com seu alunado vem a estabelecer uma relação de
segurança, confiança, evitando os bloqueios afetivos e cognitivos. Através
dessa interação é que o professor e o aluno estabelecerão na escola esses
fatores afetivos que exercem uma influência que é decisiva e permite a relação
de várias áreas na construção do conhecimento.
Quanto o ensinar com afeto, o autor aponta que
os alunos esperam ser cativados pelos professores e que estes, não podem
confundir sua autoridade profissional com autoritarismo, mais sim,
desenvolver seu trabalho pautando-se no papel do professor libertador. Destaca
que o desenvolvimento da inteligência, de acordo como os estudos de Piaget,
está intimamente ligado a efetividade.
Abreu
incrementa que a carência de afeto familiar nas crianças contemporâneas faz com
estas se apeguem aos professores. Entretanto a maioria dos profissionais, em
especial os de escolas públicas não estão preparados para oferecerem o afeto
necessário. Por esses e outros aspectos a responsabilidade do professor em sala
de aula é muito significativa, pois através de suas ações ele pode construir e
fortalecer sonhos ou destruí-los.
Considera que a construção do conhecimento não
precisa ser amarga e que a efetividade contribui para o desenvolvimento do
ensino-aprendizagem, além de destacar que os professores da modernidade
trabalham com sujeitos de diferentes realidades, mas que mediante suas atuações
é possível desenvolver a inclusão desde que haja uma boa relação entre professor
e aluno.
Pontua também que é necessário mudarmos o
ambiente educacional, transformando-o em um ambiente motivador e favorecedor da
construção do conhecimento. Já que segundo a Teoria Epigenética de Lipton o
ambiente pode moldar a vida. Não adianta, portanto como afirma morais (2008),
citado no texto, colocar a culpa das dificuldades do ensino no sistema
educacional, sendo que também somos responsáveis por aquilo que nos rodeia.
O
autor considera que o ensinar aprendendo é um desafio constante, devido uma
série de questões que envolve o sistema educacional, entre estas, pode-se
destacar a complexidade do ensino enfrentado pelos sujeitos que compõe o espaço
escolar.
Fala,
que a noção de obstáculo pedagógico é desconhecida, ou seja, alguns professores
devido uma formação tradicionalista de que são os detentores do conhecimento e
consequentemente os discentes são pautados como receptores de conteúdo,
realizam praticas contrarias ao exercício da docência. Os alunos/as não
constroem conhecimento, apenas repetem como fossem cristalizados, muitas das
vezes, sem utilidade para o público em questão. O professor não faz uma conexão
com a as distintas realidades, dificultando assim, o processo de ensino e
aprendizagem.
Destaca,
a habilidade da autocritica, saber que pouco se sabe, e que o conhecimento é
mutável. Enfatiza que o exercício da profissão requer uma solida formação.
Mostra, que na contemporaneidade a estrutura familiar esta esfacelada com
múltiplas mazelas socioeconômicas, e que estas problemáticas refletem
diretamente no espaço escolar. Nesse sentido, o educar para esses sujeitos,
terá um norte diferenciado.
Possibilita
alternativas para que o professor reforce a capacidade crítica dos discentes,
como por exemplo: auxiliando a tornasse criador, investigador, inquieto,
rigorosamente curioso, humilde e persistente, e ensinar a pensar criticamente
não com a cabeça bem cheia, mas uma cabeça bem feita.
Considera
que ensinar exige respeito aos saberes do educando, e este é um dos maiores
desafios do ensinar aprendendo. O mesmo cita Paulo Freire, no qual elucida que
ensinar não é transmitir conhecimentos, mas criar possibilidades para a
produção do saber. O aluno/a já tem uma carga de saberes, denominados
conhecimentos prévios, que somados com um conhecimento novo gera mudança e
consequentemente resultando na aprendizagem.
Relata,
que são muito os fatores que influenciam no processo de ensino/aprendizagem dos
educandos, o meio, o interesse em aprender, a afetividade entre outros, porém a
afetividade é um fator determinante neste processo, devido muitos/as buscarem o
carinho no espaço escolar.
No sétimo capitulo, o autor tratará de abordar
e descrever questões relacionadas com a Interdisciplinaridade, a
Transdisciplinaridade e a Metadisciplinaridade. Onde o mesmo traz de acordo com
as ideias de Morin, a disciplina como uma categoria que divide e espacializa o
trabalho.
No entanto, para a construção do conceito de
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, o autor se baseia nas ideias
elaboradas por Jean Piaget (1980, p. 50), que traz a interdisciplinaridade como
sendo o “intercambio mútuo e integração recíproca entre várias ciências”. Para
o autor a interdisciplinaridade abriria espaço para chegarmos a algo mais
integralizador, a transdisciplinaridade, onde para esta não haveria barreiras
entre as disciplinas todas elas seriam quebradas, uma verdadeira integração
global entre elas.
O autor ainda busca um outro conceito,
elaborado por Milton Santos, onde este define a interdisciplinaridade como algo
que vai além de uma mera colaboração entre disciplinas, sendo uma integração
entre estas.
Paulo Roberto fala que, não devemos apenas
combinar disciplinas em projetos, para que ocorra a interdisciplinaridade é
necessário que haja a colaboração e parceria entre currículos de disciplinas
para se chegar a uma única finalidade, onde chegaríamos a um currículo
interdisciplinar.
Para chegarmos a este novo conceito, é preciso
ir muito além da integração de diferentes disciplinas, não devem existir
fronteiras entre essas áreas do conhecimento, esta interação chega a um nível
tão elevado que de acordo com o autor, é praticamente impossível distinguir
onde começa e onde termina cada disciplina.
No currículo metadisciplinar, cada disciplina
tem um objetivo que as distingue das demais disciplinas, onde de acordo com
Santos (2009, p.49) : “O que faz com que uma disciplina se relacione com as
demais é o mundo, o mesmo mundo que, no seu movimento, faz com que a disciplina
se transforme”. Atuando como coadjuvante, o mundo, ao mesmo tempo que une
também transforma as disciplinas, fazendo com que elas busquem um único
objetivo, obtendo assim, a metadisciplina.
Tanto a interdisciplinaridade como a
metadisciplinaridade fazem com que, a ação docente não se justifique apenas na
mera transmissão de conhecimentos isolados, mas sim, na articulação de vários
conteúdos ou disciplinas, para que seja possível obter resultados
significativos em determinado tema ou problemática.
Na unidade 3, Morin irá elencar e abordar os
sete saberes necessários para a formação do professor, numa perspectiva futura.
Um dos objetivos desses saberes é introduzir uma nova e criativa reflexão no
âmbito geral, acerca dos debates que vêm sendo feitos sobre a Educação nos
últimos anos. Morin, inicialmente, tece severas críticas ao método de ensino
tradicionalista e aponto exemplos notórios da constante perpetuação dessa forma
de ensino nas instituições escolares, como se fosse algo já pré-estabelecido e
imutável. Evidência clara desse tradicionalismo nas salas de aula é a prática
de memorização, resultando em um conhecimento fragmentado e ineficaz, reduzido
inteiramente ao ensino tecnicista. Tudo isso impede que haja a construção mútua
dos saberes, tanto por parte dos professores quanto dos alunos, uma vez que
leva a ausência do verdadeiro significado do conhecimento construído, já que
não ocorre a conexão entre o todo e as partes.
Diante tal situação, o renomado intelectual e
educar Edgar Morin definiu e elencou sete saberes imprescindíveis para a
educação contemporânea a cada saber tratado por ele trará consigo uma reflexão
de como estamos trabalhando nossas práxis pedagógica, além de mostrar e sugerir
caminhos para a superação dos desafios e incertezas que vive os programas de
ensino atuais. No que toca ao primeiro ao primeiro saber, as cegueiras do
conhecimento: o erro e a ilusão, Morin destaca que a educação do futuro terá
que enfrentar o problema do erro e da ilusão, na qual o maior erro seria
desdenhar o problema da ilusão, isto é, devemos estar cientes que não existe
conhecimento que não esteja ameaçado pelo erro da ilusão, cabendo
exclusivamente aos educadores à identificação das origens dos erros, ilusões e
cegueiras. O segundo saber, princípios de um conhecimento pertinente, o autor
nos incita a pensar o conhecimento através da nossa visão de mundo. O
conhecimento escolar é construído levando em conta o contexto (situação de
informações em seu contexto, ganhando funcionalidade), o Global (tudo que se
liga ao contexto e as suas partes), o multidimensional (levando em conta todas
as dimensões humanas e sociais) e o complexo (interação e interdependência do
conhecimento pertinente). Morin deixa perceptível que não significa unicamente
ter acesso às informações, mas sim aprender a organizá-las e articula-lás, já
que saberes isolados não funcionam. No que se refere ao terceiro saber, ensinar
a condição humana, o sociólogo diz que para que tenhamos uma educação
pertinente e multidimensional, o ensino deverá ser universal, focado na
condição na condição humana. O homem só será completo enquanto ser plenamente
humano quando é incorporado na e pela cultura, responsável por nos motivar a
seguir estudando, pesquisando, refletindo, indagando e incitando cada vez mais
as diversidades culturais e sociais do ser humano. Partindo para o quarto
saber, o filósofo parte do pressuposto da necessidade de ensinar a identidade
terrestre, uma vez que o nosso próprio destino intergaláctico é ignorado pela
educação. Por isso a valia do ensino da história planetária e também o autor
deixa claro como todas as partes do mundo se tornaram solidárias e conectadas.
É relevante mostrar como os seres humanos estão mergulhados na complexidade do
mundo, por isso a necessidade de trabalhar na sala de aula o tema da globalização,
que ajuda bastante a entender como funciona todo esse processo, pois o mundo
torna-se cada vez mais um todo e cada parte do mundo está presente em cada uma
das suas partes. Relacionado ao quinto saber, enfrentar as incertezas, o
antropólogo volta ao século XX, período em que se descobriu a imprevisibilidade
dos tempos. Morin nos fala que a “educação deveria incluir os estudos dos
grandes acontecimentos e desastres e o ensino das incertezas que surgiram nas
ciências física, biológica e histórica”. Essa preocupação do educador é
pertinente, já que vivenciamos e passamos por vários conflitos, guerras e
crises sócio-política-econômicas, que afetam toda a população mundial,
principalmente as mais carentes e desprovidas de escolaridade e entendimento
crítico do mundo. No que se refere ao sexto saber, ensinar a compreensão, o
grande sociólogo nos diz que a compreensão é meio e fim da comunicação humana,
mas o mesmo contesta que a compreensão está distante e muito do ensino atual e,
devido a isso, que deve haver uma mudança de paradigma e que seja realçada a
importância da compreensão mútua, que só logrará êxito se houver uma inteira
reforma das mentalidades. Como o próprio autor cita: “educar para compreender é
uma coisa; educar para compreensão é outra”. Portanto, nós, futuros docentes,
devemos ensinar para a compreensão, assegurando assim, uma base moral e
intelectual para a humanidade, afiançando uma educação para a paz. O último
saber de Morin, a Ética do Gênero Humano, traz consigo a ideia de gênero humano
a partir da tríade individuo, sociedade e espécie, tríade essa que é
indissociável, na qual seus elementos são inter-relacionados e co-produtores,
ou seja, cada um é meio e fim dos outros. A Ética do Gênero Humano, como
sugeriu o próprio autor, pode e deve ser trabalhado como tema transversal,
juntamente com a educação ambiental, sexualidade, pluralidade cultural e saúde.
Como vimos, todos esses saberes elencados e abordados pelo grande Antropólogo
estão inteiramente inter-relacionados, conectados um ao outro é justamente
devido a isso que o professor libertador deve trabalhar e incorporar todos os
sete saberes nas suas práxis. Trabalhando esses saberes em suas didáticas, os
docentes poderão mostrar que é possível buscar um conhecimento pertinente, sem
causar repulsa nos estudantes, possibilitando assim apreender os problemas
globais fundamentais para que se possa ensinar os conhecimentos parciais e
locais. Sabemos que incorporar tais saberes no cotidiano do ensino não é uma
tarefa fácil, pois os empecilhos e os problemas estruturais ainda são enormes,
bem como a falta de incentivo governamental. O processo de aprendizagem é algo
complexo e nós, futuros professores, precisamos diariamente ressignificar nossa
práxis pedagógica, para que assim possamos criar novas situações de
aprendizagem e novos cenários educacionais. Diante dessa complexidade da arte
do ensino diário, é mais que necessário considerarmos o aspecto afetivo no
processo de ensino-aprendizagem, pois não só o desenvolvimento cognitivo que
tem influência sobre o desenvolvimento intelectual, mas a afetividade também,
assumindo um importante posto na estruturação da inteligência e do intelecto.
No capítulo seguinte, o autor irá nos chamar
atenção para a necessidade constante do professor se tornar pesquisador. Como
já é sabido, a ciência sempre está articulada numa linguagem científica e que a
teoria é de extrema importância para que haja a prática investigativa. Para
satisfazer essa brecha, o docente precisa autoanalisar sua epistemologia,
sempre buscando novas formas e conteúdos, criando novas metodologias e
categorias de ensino para que possa trabalhar novas temáticas, despertando no
alunado o incentivo pela pesquisa e investigação. Como já dizia Piaget (1996),
o conhecimento não deve ser encarado como mero objeto de repetição continua,
mas sim objeto de curiosidade, imaginação e permanente criação. Precisamos ter
em mente que a complexidade da educação exige que a formação do profissional
docente seja pensado e repensado a todo momento, abrangendo não só uma área
especifica de atuação, mas sim transpondo barreiras e possuindo um caráter
inter e transdisciplinar. Piaget retrata bem a diferenciação dos conceitos
acerca da multi, inter e transdisciplinaridade. Enquanto a
multidisciplinaridade abarca o nível básico de integração disciplinar, sem
mudanças internas nas disciplinas envolvidas, na interdisciplinaridade são
instituídos processos mútuos, com grandes interações e trocas de conhecimentos
entre as disciplinas. Já na transdisciplinaridade é preciso recorrer a uma
exploração de significados profundos, comparticipados por um conjunto de
disciplinas, formando um sistema de múltiplas compreensões. O autor deixa óbvio
que o docente do mundo contemporâneo precisa engajar-se plenamente no trabalho
investigativo, de pesquisa, pois a educação também é regida pela pesquisa, como
as demais profissões. O autor ainda faz duras críticas aos professores
repentistas, que não preparam devidamente suas aulas, inventando planos em cima
da hora e, uma vez que persistem em serem professores repentistas, sem nenhum
estímulo investigativo, acabam por comprometer seu trabalho e fragmentando-o.
Somente através da pesquisa que se pode encontrar uma saída promissora dos
entraves e obstáculos do ensino, pois é somente com a construção de bases
teóricas flexíveis e consistentes que se poderá alcançar uma postura
crítica-reflexiva, diante de sua prática.
No capítulo seguinte (A Epistemologia da
Complexidade) o autor irá discorrer acerca do pensamento complexo e suas
implicações no processo didático-pedagógico. A premissa básica que precisamos
entender é que o conhecimento possuiu um caráter extensivo e que está ligado a
todos os sujeitos e objetos e que todas suas partes estão interconectas entre
si, dando ao conhecimento um contexto mais amplo. O autor indaga no texto o
verdadeiro conceito do “complexo”, erroneamente considerado como algo confuso,
difícil, caótico e repleto de incertezas. Por isso a preocupação em trazer um
sentido estreito do termo, afastando o incerto e retirando a ambiguidade. Porém
tal operação, de acordo com o autor, é difícil de realizar-se, já que o risco
de eliminar a premissa básica do complexus
é extremamente grande. Mas devemos ter em mente que desde a formação do
Universo até as relações pessoais são calçadas pela complexidade e que entender
esse conjunto de elementos complexos no nosso espaço irá demandar muita observação
e análise. Devemos ter em mente a ciência como um todo está em constante
movimento e agitação e que o principal responsável pela sua atividade é a
transformação mutável que ocorre nos cosmos e no mundo atual, regido pelo ser
humano. No ensino o paradigma é o mesmo, pois a pesquisa é quem impulsiona e
dar vida a um novo pensar. Sabemos que a escola é um espaço moldado pela
fragmentação dos conhecimentos, já que sua estruturação e delimitação temporal
é pré-definida. Porém, os mesmos sujeitos que imprimem essas demarcações são os
que estão em constante interação com o ambiente escolar, fazendo da própria
sala de aula um ambiente complexo. Morin acredita que o reajuste e
remodelamento dessa condição imposta pode ser alcançada através da transdisciplinaridade,
além de uma prática pedagógica libertadora. É preciso ouvir os alunos, que
estão cada vez mais antenados com tudo o que acontece, eles podem até ter um
conhecimento restrito, mas possuem indagações e posicionamentos curiosos,
possibilitando também que o professor aprenda e enriqueça cada vez mais com
essa troca mútua de informações. O autor traz a ideia do Paradigma da
Complexidade como superação eficaz do modelo tradicional, já que esse paradigma
apresenta uma nova concepção e um eixo de interconexão das partes, formando o
todo. Traz consigo uma nova visão de sociedade, de homem e de mundo e na
formação docente não é diferente, esse novo paradigma obriga aos profissionais
da educação a buscarem uma qualificação contínua, com uma visão crítica e reflexiva.
Essa transcendência de paradigmas da ciência para educação possibilita também o
afastamento do viés conservador e tradicionalista, permitindo novos horizontes
e novas maneiras de trabalho, ensino e pesquisa. É pertinente ressaltar que é a
transdisciplinaridade é o percurso a ser seguido, para que se consiga romper
com o passado e os limites imposto pelo sistema, que fragmentam o saber, dando
espaço cada vez mais ao pensamento que une o múltiplo e o diverso. O autor
deixa claro que é preciso desconstruir o paradigma da simplificação e por mais
que nos dias atuais as ações dos professores sejam influenciadas por tais
modelos simplórios, sua concepção pode e deve ser passível de mudanças no
decorrer de sua história profissional. É preciso interromper com o sistema
hegemônico, repleto de concepções lógicas, com um conceito paradigmático
estreito. A mudança de paradigma é imprescindível e o pensamento complexo é
único capaz de oferecer tal mudança, uma vez que ocasiona uma notável
transformação no modo de pensar e possibilita um diálogo múltiplo com os
diferentes sujeitos existentes.
Diante disso, Morin traz consigo os “sete
princípios básicos gerativos do método complexo”, princípios estes que criam um
pensamento do contexto e do pensamento complexo, que liga e enfrenta a
incerteza, passaremos a elencar e definir a partir de agora. O primeiro é o
Princípio Sistêmico que diz que o todo é mais que a soma das partes e que a
soma do todo é menos do que a soma das partes e aí dessa premissa surge o
princípio da emergência, quando a organização do todo produz qualidades novas
em relação as partes. O segundo é o
Princípio Hologramático, onde cada ponto e/ou lugar contém a totalidade da
informação de determinado objeto. Esse princípio coloca em evidência um paradoxo,
em que o todo está nas diferentes partes, como as partes estão no todo. O
terceiro é o Princípio do Círculo do Anel Retroativo, que rompe com a ideia da
causalidade linear. Esse círculo ocasiona um processo auto regulador
(continuidade), pois a causa age sobre o efeito e o efeito age sobre a causa. Exemplo
disso é a sociedade que, por ser bem dinâmica, está sempre buscando, a partir
de suas ações sociais, políticas e culturais, a manunentenção desse ciclo
dinâmico retroativo. O quarto princípio é do Círculo Recursivo, que ultrapassa
a noção de regulagem para a de autoreprodução e autorregulação. A premissa
básica é que os produtos e os efeitos são propriamente vistos como os
produtores e causadores daquilo que produz. Na escola, isso é bem perceptível, no
que toca aos sujeitos que produzem e causam inter-relações distintas, perante
suas ações. O quinto princípio é o da Auto-eco-organização, na qual os
indivíduos se auto produzem ininterruptamente e gastam energia para assegurar a
sua autonomia. Os sujeitos possuem, simultaneamente, autonomia e independência.
O sexto princípio é o Dialógico – “definido como uma associação complexa de
instâncias necessárias em conjunto à existência, funcionamento e
desenvolvimento de um fenômeno organizado”.
Permite também a junção de ações contraditórias. Por último, temos o
princípio da Reintrodução do Conhecimento em todo o Conhecimento, que atua na
restauração do sujeito, evidenciando um problema cognitivo central, em que todo
conhecimento é uma reconstrução, desde a percepção até a teoria propriamente
definida. Todos esses princípios funcionam como uma possibilidade de mudança do
pensamento de natureza não programática para uma paradigmática, já que permite
que nós possamos organizar nossos conhecimentos, fazendo que compreendamos
nossa lucidez e permita o uso pleno de nossa inteligência. Isso deixa claro que
a complexidade é um desafio a ser cumprido e que não depende só de nós, mas de
todo um conjunto que rege o mundo complexo. Em síntese, precisamos pensar de
forma complexa para que, quando nos defrontarmos com a necessidade de
articular, relacionar, trabalhar e contextualizar os conhecimentos, não
tenhamos dificuldades.