O
referido ensaio, escrito pelo filósofo húngaro István Mészáros e publicado na
Conferência de abertura do Fórum Mundial de Educação em 2004, traz consigo uma
mensagem revolucionária, que nos ensina a pensar uma nova educação tendo como
principal parâmetro o ser humano e que só será possível se houver um rompimento
da lógica desumanizadora do capital. É preciso transformar essas ideias e princípios
trazidos por Mészáros em uma realidade visível e concreta, tarefa essa que
exige muito esforço, empenho e dedicação e que vai muito além das salas de aula
e ao ambiente escolar propriamente dito. No decorrer do livro, são muitas as
passagens que remetem a uma alienação da educação, sendo vista unicamente mais
como uma forma de manutenção e reprodução do sistema capitalista do que como uma
forma de libertação e transformação, ou seja, uma educação que deveria ser
elemento de transformação social e não limitada as “adaptações” e as mudanças formais que beneficiam o capital. O
autor inicia sua obra acerca da educação através de um resgate histórico dos
ideais iluministas de alguns autores renomados, como Adam Smith, John Locke e
Robert Owen, em que, apesar de suas ideias encantadoras e bem pensadas, caíram
em algumas limitações cruciais, impedindo seus êxitos. Mészáros justifica essas
limitações devido a própria lógica cruel do capital e também as condições
desfavoráveis do próprio momento histórico, em que era praticamente impossível
entender e superar os limites do capital. Diante dos fracassos dos iluministas,
Mészáros chega a um consenso de que, no sistema do capital, não há chances para
uma emancipação da sociedade e muito menos de uma nova alternativa educacional,
pois os parâmetros estruturantes do capital são tidos como algo irreversível e incontestável , por isso é imprescindível romper com essa lógica
para que se consiga estabelecer uma educação voltada para a transformação do quadro social e
também para o desenvolvimento contínuo da consciência socialista. Também é
necessário que as soluções sejam essenciais
e não formais, pois as mudanças
formais são iminentemente superficiais e não alcança um mudança objetiva e
concreta (abrangendo a totalidade das práticas educacionais), contribuindo
somente para a perpetuação do capital e isso fica bem claro, devido ao fato de
o capital ser de natureza irreformável.
O autor traz também a ideia de que é praticamente impossível criar
reformulações na educação se não houver uma transformação do quadro social como um todo e critica as
correções marginais que o próprio sistema do capital impõe para “solucionar” os
problemas encontrados, mas sem alterar os pilares estruturais e os fundamentos
que sustentam a sociedade capitalista. Em suma, o renomado filósofo húngaro, trata
a educação como um processo estratégico e
vital de existência do homem, de
instrumento de emancipação humana e objeto de transformação das condições
impostas pela lógica dominante e serve como um estímulo de automudança da sociedade, envolvendo os mesmos na luta por uma nova
ordem sócio metabólica radicalmente diferente.
EDUCAÇÃO:
O DESENVOLIMENTO CONTÍNUO DA CONSCIÊNCIA SOCIALISTA
A
segunda parte do livro “A educação para além do capital” de István Mészáros irá
trazer sua proposta acerca do viés manipulador do sistema capitalista que
remete a educação ao status de
mercadoria. O autor deixa claro a importância do papel da educação, onde a
mesma assume a função de certificar uma transformação socialista sustentável e
deve conservar um distanciamento radical das práxis educacionais regidas pelo
sistema do capital. A educação deve ser reconhecida no seu sentido mais amplo e
que vá além dos níveis de ensino e/ou sistemas escolares, ou seja, a educação
deve funcionar como um papel estratégico e vital, como também um processo
contínuo de aprendizagem, em que a sociedade não deve ser regida unicamente em
detrimento de obtenção da mais valia, produção de mercadorias e alienação
exploratória no trabalho. O autor enfatiza a educação como processo vital de
existência do homem, uma vez que que sua caracterização de ser social imprime
toda uma capacidade cognitiva, ética, racional e saber e conhecer a realidade
que perpassa no seu mundo. Mészáros expõe no seu ensaio uma nova perspectiva no
que compete ao campo educacional, cujo principal propósito é considerar uma
educação que seja demonstrada do ponto de vista da emancipação humana e isso se
faz necessário pelo fato da alienação que o próprio sistema dominante impõe
sobre a produção de ideias, “controlando” os uma grande massa da população a se
render aos princípios e a ordem capitalista. Isso explica o fracasso dos
grandes pensadores iluministas, que formularam verdadeiras utopias
educacionais, porém não conseguiram “emancipar-se” da lógica do capital,
assumindo somente um modo de reprodução sócio metabólica. Como vimos na
primeira parte a educação formal/ institucionalizada tem apenas duas funções
bem apriorísticas, a primeira de produção e reprodução dos condições
pretendidas sob o regime do capital e segunda de formação de quadros e
elaboração dos métodos políticos controladores, permitindo a manutenção do
ordem imposta e é justamente devido a isso que autor ressalta a grande
necessidade de uma transformação significativa do controle do sistema sócio
metabólico sobre a sociedade, pois somente assim que se chegará a uma mudança social, com uma
emancipação humana e educacional. A concepção que o autor traz consigo é de uma
“nova” educação, ligada a uma inevitável superação da alienação objetiva do
capital e isso não implica unicamente a derrubada dos sistema capitalista e/ou
sua negação, e esse é apenas o primeiro passo de libertação dessa ordem
alienante e que, segundo o autor, para que se consiga efeitos permanentes é
preciso que essas primeiras ações estejam guiados pelos fundamentos gerais, com
toda sua concretude e abrangência. Portanto a educação tem a função de
suplantar o capital não parcialmente, mas sim totalmente, admitindo um papel
soberano no combate as determinações sistêmicos, mediante a criação de
estratégias viáveis para permitir uma mudança radical das condições de
reprodução atual, cuja realidade é vista globalmente através da condição
desumana da autoalienação do trabalho. Diante disso, Mészáros recomenda uma automudança consciente, que é o caminho
mais fácil a ser seguido pelos indivíduos para estabelecer uma ordem social
renovada e de acordo com os princípios socialista, tomando decisões sensatas e
assumindo uma gestão própria de vivência harmônica, ou seja, instaurando um
“controle consciente dos processos sociais”. Esse controle se transforma numa
eficaz automediação, ou seja, uma
mediação consciente do homem acerca da sua própria libertação e superação do
sistema alienador. O filósofo húngaro expõe ainda a ideia de universalização da
educação e trabalho, simultaneamente, que é imprescindível para solucionar a
problemática da autoalienação do trabalho, além de promover uma igualdade de
toda a sociedade e toda essa conquista só será alcançada se a educação seguir
uma ordem social qualitativamente diferente, ou seja, um autêntica educação
para além do capital, como diz o livro. Meszáros chama atenção a todo momento,
no decorrer do ensaio, para as diferentes formas de apropriação da educação, em
que a educação transformadora (revolucionária) não deve se restringir somente
aos locais formais e sim para todos os ambientes e atividades onde ocorre o
processo de interiorização. Em tese, não seria mais uma educação hierárquica, venerada
e destrutiva e sim sustentável, transformadora, consciente, cooperativa e para
que essa educação revolucionária socialista cumpra seu preceito é mais que
necessário a presença das classes trabalhadoras e sua luta contra o capital.
Outra concepção do autor compete a sua defesa de que as instituição de ensino e
seus agentes formadores devem estabelecer uma íntima relação dialética em
consonância com os sistemas políticos e sociais, garantindo assim, a
possibilidade de construção de um futuro digno e emancipado para toda a
sociedade. Diante de todo esse aparato teórico do grande filósofo marxista István
Mészáros e toda sua crítica acerca da educação manipulada pelo sistema do
capital, fica dada a grande e árdua tarefa a todos os atuais e futuros
educadores, agentes sociais e cidadãos conscientes para a elaboração de metas e
estratégias convincentes para uma educação que vá além do capital e também
articular uma tarefa de transformação social de forma abrangente e que atenda
todas as classes sociais e toda a classe trabalhadora, além de firmar práticas
para que se concretize uma mudança social e educacional radical, que condicione
um desenvolvimento contínuo da consciência socialista.
(RESENHA CRÍTICA ELABORADA
PELOS PIBIDIANOS DO CRISPIM COELHO)